A greve dos caminhoneiros, iniciada no dia 21 de maio (segunda-feira), paralisou o transporte de cargas e trouxe implicações em todo o Brasil. O acontecimento evidenciou a dependência no modal rodoviário e abriu o espaço para o debate acerca dos benefícios do transporte ferroviário, bem como alternativas para a condução de carregamentos.
Com a intenção de discutir e aprender mais sobre o tema, o professor dos cursos de Pós-Graduação em Engenharia Ferroviária, José Roberto Pataro, responde algumas perguntas que contribuirão para elucidar a temática. Acompanhe!
P: Professor, quais os benefícios econômicos e sociais que podem ser gerados com o aumento da malha ferroviária?
R: Uma maior integração, com uma rede ferroviária ampla e interligada, beneficiaria todo o processo econômico e social. O Brasil, com a sua extensão territorial, não pode ficar concentrado apenas no modal rodoviário. Precisamos vencer os desafios técnicos e os processos que emperram o avanço, enfrentando as mudanças necessárias, despertando principalmente para o modal ferroviário, que trará aspectos positivos no desenvolvimento, na produção e atratividade das regiões envolvidas com novos polos de investimentos. Abertura de frentes de trabalho e diminuição dos desequilíbrios econômicos entre regiões, são outras vantagens que podem resultar na melhoria significativa da qualidade de vida.
Cada ferrovia implantada é um caminho especial para o progresso, tanto no transporte de carga como no de passageiros. Para isso, é necessário que a ferrovia seja incorporada e conectada através de um sistema logístico integrado, permitindo e garantindo, na carga, um maior escoamento das produções industriais e aos passageiros, uma maior mobilidade no transporte entre as cidades.
P: Como o desenvolvimento do sistema ferroviário pode reduzir a poluição e diminuir os impactos ambientais?
R: O sistema ferroviário, possui um gasto baixo de energia e uma redução do impacto ambiental bem significativo. Segundo estudos, o consumo de combustível do trem equivale a 30% do gasto do caminhão por quilômetro a cada tonelada transportada, além de já existirem trens com a utilização de biodiesel, combustível bem menos poluente. Devemos ainda considerar que o transporte ferroviário tem baixo custo de frete e manutenção, inexistência de pedágios, menor índice de roubos e acidentes e a grande capacidade no transporte a longas distâncias.
P: Diante do déficit no número de ferrovias, como o governo federal vem atuando nos últimos anos para resolver o problema?
R: Nos últimos anos, vários programas em logística vêm sendo apresentados pelo governo com o objetivo de ampliar os investimentos em infraestrutura ferroviária e demais modais. Entretanto, estas ações ainda estão lentas e travadas. É preciso mais agilidade governamental. Ações que possam gerar parcerias com o setor privado, tanto nacional quanto internacional, são bem-vindas. Ao mesmo tempo, traçar um planejamento emergencial integrado, de forma a implantar uma rede de infraestrutura moderna e eficiente é essencial. Isso permitirá maior velocidade na circulação e escoamento da produção, principalmente a da agropecuária, para que haja menores custos logísticos e mais dinamismo.
P: Falta investimento público ou a legislação brasileira é muito exigente em relação à concessão para funcionamento de empresas em nosso setor ferroviário?
R: Sim, faltam investimentos, mas com a aprovação da lei de prorrogações das concessões ferroviárias, perspectivas animadoras são sinalizadas para o modal. Estimam-se investimentos de R$ 25 bilhões em 5 anos, ampliação de capacidade (nas vias, pátios, tecnologia, duplicações), construção de novos trechos, ampliação e modernização da frota de locomotivas e vagões, além de redução em interferências urbanas e emissões de CO2. Enfim, ações positivas e perfeitamente adequadas ao desenvolvimento ferroviário.
P: Analisando a atual greve relacionada à alta dos combustíveis, em especial do diesel, é possível dizer que o Brasil é extremamente dependente do modal rodoviário? Faça a sua avaliação a respeito, por gentileza.
R: A crise que estamos vivendo, com a greve do caminhoneiros, nos mostra a total dependência do país no sistema rodoviário, o que representa uma grande ineficiência do transporte.
Precisamos despertar para a ferrovia, mostrar a sua importância. O Brasil apresenta condições topográficas extremamente favoráveis para o transporte de cargas, que se mostra mais eficiente para deslocamentos acima de 300 km e cargas de grande volume agregados.
Desta forma, está mais do que na hora de investirmos maciçamente em ferrovia e retirarmos os caminhões nas estradas. Por exemplo, um caminhão pode transportar 30 toneladas, enquanto um único vagão pode transportar 130 toneladas. Se considerarmos que existem trens com 200 vagões incorporados, teremos, em consequência, uma grande redução de caminhões nas estradas, provocando a redução no fluxo de circulação e de acidentes. Os baixos custos de manutenção e as grandes quantidades transportadas fazem deste tipo de transporte o mais viável e eficiente para o transporte de cargas no Brasil.
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